LUTA SEM FIM-CREEPYPASTA

O homem estava deitado, apesar do calor. Sobre ele, mais grades de madeira e um colchão. Estava cansado, mas era inútil.
Moveu a mão para o fino raio de luz avermelhada. O sangue começara a secar, formando finas cascas sobre sua pele. O sangue que podia não ser seu.
Lá fora, clarões se formavam em meio a chuva, motivo daquela queda de luz. Infelizmente, não era a melhor hora para se ficar no escuro.
Saindo do quarto, depois do corredor, a porta do banheiro estava trancada. Como se uma porta de madeira impedisse o mal de sair.


Começara quando percebeu que guardar livros antigos, herança de família, era perda de tempo e espaço. Amontoou-os no quintal e fez uma pequena fogueira. Era fim de tarde, então ficou no quintal por um tempo admirando as nuvens.
Bonito como formavam tantas imagens, um contraste das nuvens claras e escuras anunciando uma tempestade.
O sol já se punha quando ele voltou pra dentro de casa. Levou a mão ao interruptor, mas as luzes piscaram e não acenderam.
As gavetas não escondiam velas guardadas para este momento. Encontrou somente uma velha lamparina e combustível da despensa, como que esperando por ele. A luz vermelha se espalhou pela sala, mas era pouco.
Os pensamentos vagavam em direção a chama, o mundo perdera a importância, até o momento em que um som abafado vindo do banheiro o despertou.
Duas batidas que logo se cessaram. Acompanhado da fraca luz avermelhada, ele caminhou até o fim do corredor, encontrando a porta do banheiro entreaberta. A luz invadiu o cômodo, revelando-o aparentemente vazio.
O medo estava no ar. O espelho grande na parede lhe dava a sensação de que algo o atacaria a qualquer momento. E estava certo. Pronto para lhe levar desse mundo, ansiando por sangue e a poucos centímetros de distância, a criatura o espreitava.
O homem suspirou. Certamente se enganara e agora poderia voltar pra sala e esperar o retorno da luz. De repente, um barulho forte o assustou. A chuva começara de uma vez, dando um clima ainda pior para aquela noite.
Estava pronto para sair do banheiro quando algo chamou sua atenção. Além da chuva no telhado, havia outro som ali. Algo se arranhando. Como se num chamado, seu olhar se volta para o espelho, fracamente iluminado. Nenhum rosto além do seu refletido ali, mas duas palavras estavam escritas no vidro: FALTA POUCO.
O homem relutou diante do medo, ou apenas ficou sem reação. Mas levou a mão no espelho e, para seu desespero, constatou que as marcas foram feitas pelo lado de dentro.
Desespero. Droga! Havia alguma coisa ali e tudo o que o homem queria era correr pra rua, para algum lugar seguro, onde houvesse luz. Mas quando se virou, era tarde demais. A porta se fechou antes que pudesse sair.
Um arrepio percorreu seu corpo, a fraca luz da lamparina se apagou, mas não houve tempo de questionar, a luz do banheiro se acendeu. Agora aquele lugar parecia seguro. Nada escondido nos cantos ou no teto. Mas tudo no espelho a sua frente.
Seus olhos se prenderam. O que quer que viesse por trás agora não importava mais. Sua vida estava presa naquele par de olhos escurecidos que o encarava através do espelho. A criatura sorriu, fim de jogo.
O homem encarava aquele rosto, cada vez mais familiar, cada vez parecendo estar mais próximo. Tão próximo como a mão que já saíra do vidro e agarrava seu braço com força. O homem caiu em si quando se sentiu arrastado para o dentro do espelho.
Ele lutou. Gritou a plenos pulmões enquanto chutava a parede ansiando para se libertar. As unhas escuras da criatura rasgavam sua pele, determinadas a não deixa-lo escapar.
O medo impedia aquele homem de lutar com todas as forças, mas quando sentiu seus dedos queimando ao atravessar o espelho, ele caiu em si. Com um grito e usando a mão ainda livre, deu um soco no vidro, quebrando-o.
Ele não sentiu medo quando a luz se apagou de novo. Saiu depressa do banheiro, trancando a porta atrás de si, levando a lamparina. Foi para o quarto e se deitou no velho beliche, ignorando os cortes.
O homem se sentia confiante, acreditava ter derrotado para sempre o inimigo. Mas seu reflexo estaria sempre ali, determinado a ocupar o seu lugar nesse mundo...


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